Tratar PCD adultas como crianças é desrespeitá-las

Card do projeto Aventuras de Clarinha criado por Clara Migowski para denunciar o capacitismo nosso de cada dia

Conquistas obtidas pelas PCD na luta por seus direitos são inegáveis. A legislação avança em sua proteção. Mas há coisas para as quais as leis pouco podem fazer e que dizem respeito a fatores atitudinais. Em tempo, se você ainda não sabe, PCD é a sigla para “pessoas com deficiência”.

Uma das condutas mais abomináveis no trato com as PCDs adultas é a de lhes tratar de forma infantilizada. Há uma tendência enraizada na sociedade de tratar adultos com deficiências físicas, intelectuais ou de desenvolvimento como se fossem pessoas especialmente ingênuas, carecendo de competências, experiências ou mesmo senso comum.

A despeito de avanços já mencionados na garantia de direitos civis e políticos de PCD e de seu direito moral de tomar decisões relevantes sobre suas vidas, e de lhes ser asseguradas iguais oportunidades de educação, moradia entre outros, o gugu dadá no trato com elas ainda persiste na sociedade como um comportamento recorrente.

Situações comuns em que se infantiliza PCDs (e pessoas sem deficiência, aparentemente, não percebem)

  • Quando tratamos uma pessoa com deficiência auditiva como se ela fosse uma criança incapaz de entender conceitos simples e nos dirigimos a seu cuidador e não à PCD.
  • Quando usamos voz de criança , pausada, e com tom assertivo, prestando pouca atenção ao que ela tem a dizer, ignorando desta forma sua condição de ser com dignidade e direitos.
  • Quando concluimos as sentenças por ela de forma impaciente ou não atendendo seu pedido de repetir esta ou aquela frase.
  • Quando as vestimos de forma ridícula ou deixamo-las seminuas
  • Quando as desencorajamos de se envolver em relações sexuais
  • Quando rimos de seus erros, aparência ou modos pouco convencionais de fazer as coisas
  • Quando somos indiferentes quando elas se queixam ou fazem demandas
  • Quando esperamos que elas sejam condescendentes e solenemente respeitosas às opiniões e desejos de pessoas sem deficiências
  • Quando tratamos sua cadeira motorizada como um novo brinquedinho
  • Quando temos curiosidade mórbida sobre sua condição ou acomodações
  • Quando as fitamos demoradamente
  • Quando lhes damos um tapinha no ombro ou na cabeça
  • Quando pensamos saber melhor do que a PCD o que é bom para ela
  • Quando nos apressamos a ajudá-las sem pedir permissão ou orientação
  • Quando tentamos mantê-las calmas e contentes com manobras enganosas ou diversionistas
  • Quando insistimos ou debochamos quando elas recusam certos tratamentos que corrigiriam ou melhorariam suas incapacidades

A lista não tem fim e de fato a sociedade em geral tende a ter menos apreço por PCDs do que por adultos sem deficiências, porque, do mesmo modo que fazemos com crianças, as vemos como menos produtivas, menos talentosas e competentes do que aquelas.

Naturalmente aqui estamos falando daquelas PCD que de fato possuem competências que se costuma observar em adultos.

Necessário se faz demonstrar respeito moral pelas PCD pelo simples fato de elas serem pessoas. Mas o cruel disso tudo é que podemos demonstrar respeito moral básico pelas PCD adultas e ao mesmo tempo assumir o tipo de comportamento paternalista e condescendente que costumamos empregar no trato com crianças, sem aparentemente estar violando nenhuma regra. Isso é um equívoco. Ao tratar PCD adultas como crianças faltamos com o respeito moral que se deve dedicar a todos os seres humanos. Afinal, todos somos iguais em dignidade e direitos.

Tratá-las como crianças pode distanciá-las cada vez mais de seus direitos, pois dessa forma não se leva a sério suas reivindicações, como costuma-se fazer com crianças (embora muitas vezes não se devesse).

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As Aventuras de Clarinha: um projeto anticapacitista

CLARA MIGOWSKI

Embora o termo “capacitismo” ainda seja pouco conhecido, a atitude capacitista está enraizada em nossa cultura tal qual o racismo.
Nossa sociedade se ufana de não ser preconceituosa, mas não é esta a realidade vivida por aqueles que fogem do padrão de “normalidade” estabelecido.
Como pessoa com deficiência causada por uma doença rara, a Distrofia Muscular, ao longo da minha vida, tenho vivenciando experiências que deixam claro como o capacitismo está presente no nosso dia a dia.

Muitas pessoas definem nossas “(in) capacidades” por conta das nossas deficiências e não percebem que estão sendo capacitistas.
As Aventuras de Clarinha surgiram com o objetivo de demonstrar  com leveza e simplicidade que precisamos rever nossas posturas e conceitos. Relatam fatos reais, vivenciados por mim e por amigos próximos. Tenho recebido muitas mensagens de pessoas que se identificam com as situações retratadas nas tirinhas.


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O primeiro blog brasileiro a abordar as doenças raras na perspectiva da Agenda 2030 e dos Direitos Humanos!

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